Vida de Seraphim - Aventuras no Deserto


1 - Estranha Amizade

A poderosa seraphim Juliana tinha algumas longas missões no deserto Bengaresh e parou em Khorum, cidade bem no meio do deserto, pretendendo estabelecer pouso nesse local por algum tempo enquanto cumpriria seus deveres.

Logo após chegar montada em seu belo cavalo branco e ser exaltada como heroína pelos moradores locais, foi a uma taverna beber água. Tavernas não são locais adequados a seraphims, mas não havia outro lugar onde pudesse comprar água.

A taverna estava lotada com muitos guerreiros, principalmente os das trevas. Havia uma mesa onde um solitário guerreiro da luz jogava paciência. Seu nome era Noed, logo puxaram papo e começaram um carteado, uma especialidade de Juliana.

Juliana o venceu e o deixou desnorteado e irritado, algo que ele conseguiu disfarçar bem. Nisso, um embriagado guerreiro das sombras de outra mesa apareceu, deu duas batidas fortes na mesa onde ocorrera o carteado e disse:

Brutus: "Noed, o que está esperando para acabar com a raça desta seraphim?"

Juliana (puxando a espada): "A morte te espera!"

Noed (separando Juliana de Brutus): "Calma, Juliana, tenha piedade e não o ataque! Brutus está completamente chapado e morreria facilmente, pois seus reflexos estão totalmente alterados. As batalhas devem ser sempre em condições de igualdade. Seu ato seria uma grande covardia."

Juliana guardou a espada muito contrariada e foi com Noed para conhecer o campo de treinamento local. Em Ancaria havia vários campos de treinamento, onde todos os tipos de guerreiros aprimoravam suas habilidades. Guerreiros das trevas e da luz costumavam treinar em cantos distintos por não se darem bem e os guardas apaziguavam eventuais conflitos entre os dois lados.

Chegando lá ele apresentou os guerreiros da luz e, estranhamente, os das sombras. Juliana achou muito estranho Noed ser realmente amigo de guerreiros das sombras, passando mais tempo treinando e confabulando com eles do que com guerreiros da luz. Ele basicamente vivia ao lado de três guerreiros das sombras: o sempre bebum Brutus (para que serve um guerreiro bebum que nunca está apto para lutar?), Titanius (seu braço direito) e Martin.

Mesmo com essas estranhas amizades, a seraphim Juliana fez amizade com Noed, que viraria seu parceiro em algumas missões, e com seu melhor amigo, Cheshire, um jovem guerreiro da luz. Cheshire sempre teve um comportamento digno de guerreiro da luz, sem contradições. Nunca se gabava de matar os monstros do deserto, por exemplo. Porém o mesmo não podia se dizer de Noed, que sempre dizia ser um amigo fiel. Ele gostava de contar vantagens de como matava não só os monstros, mas outros inimigos de maneira arrogante. Mais ainda, demonstrava ter atos de covardia, como ataques pelas costas.

Noed prestava homenagens a Lumen, deus da luz, assim como Juliana. Entretanto, ela já tivera a impressão de que ele prestara reverência à Ker, a deusa do caos. Mais ainda, uma vez a poderosa seraphim ficou atrás dos cactus e ouviu uma conversa de Noed com seus comparsas das sombras. Infelizmente Juliana não conseguia ouvir as respostas de Noed, que falava baixinho para não levantar suspeitas.

Brutus: "Noed, é verdade que você trucidou um guerreiro da luz de nível 48?"

Martin: "Ele vai ganhar destaque em seu livro de conquistas?" (todo guerreiro coloca os nomes e detalhes dos guerreiros abatidos em um livrinho, juntamente com missões concluídas e falhas)

Titanius: "Ele era mais forte do que a Juliana?"

Brutus: "Ele corria mais do que a Juliana?" (seraphims são velozes)

Titanius: "Quando você vai dar cabo da Juliana?"

Eles sabiam que Noed e ela eram uns dos guerreiros mais poderosos daquele campo e que uma batalha entre eles seria épica. Todavia, não poderiam lutar no campo de treinamento e nem na cidade. A batalha teria que ser no meio do deserto. O nível da poderosa seraphim era 47 e o de Noed, um mistério. Nem mesmo o tipo de guerreiro que ele era revelava. Só se sabia que ele era um elfo.

Juliana chegou a colocar a mão em sua espada pensando em partir para o ataque. O bebum do Brutus e os outros dois não seriam problema mesmo estando os três juntos. O complicado seria derrotar Noed e, pior ainda, burlar as regras do campo de treinamento.

Juliana contou o que andou percebendo a seu amigo Cheshire:

Juliana: "Peguei um papo estranho de Noed com seus amigos das sombras."

Cheshire: "O que ouviu?"

Juliana: "Eu não ouvi o que ele falou. Porém ouvi o que seus comparsas falavam. Parece que ele contou vantagem por derrotar um guerreiro da luz de nível 48 e seus comparsas perguntavam se o tal guerreiro era melhor do que eu e quando ele, Noed, iria me derrotar."

Cheshire: "Você não ouviu as respostas dele. Muito provavelmente esses inúteis colocaram palavras na boca dele e deixaram-no sem respostas e sem-graça. Afinal, Noed é um cara bonzinho e nosso amigo."

Juliana: "Mas você não acha estranho ele andar com guerreiros das sombras?"

Cheshire: "Acho que ele anda com esses sujeitos para tentá-los levar para o lado da luz. Um mau sujeito não falaria coisas tão belas nem seria tão gentil."

Juliana: "Tive uma forte impressão de que ele reverenciou Ker de maneira meio escondida de mim. Ele pode ser um embuste..."

Cheshire: "Acho que tudo é um grande mal-entendido."

O papo terminou com Juliana achando que Cheshire estava sendo inocente demais. Todavia ela ficou calada para não ofender seu amigo.

2 - Amizade com o Inquisitor

A seraphim continuava muito desconfiada. O próprio Cheshire percebeu que havia coisas que Noed falava que "não fechavam". Ou seja, mesmo que fosse bonzinho e amiguinho de verdade, andava mentindo. Omitir coisas todo mundo sabia que ele fazia. Ninguém sabia seu nível, sua classe e muitos dos detalhes de sua experiência relatada em seu livro de registros. Ele apenas contava o que havia lá, mas nunca mostrava o livro propriamente dito. Obviamente, quando contava as mesmas estórias algumas vezes, contava com detalhes diferentes, o que Juliana e Cheshire já tinham percebido.

Antes que todas as missões de Juliana pudessem ser concluídas, ela recebeu uma carta vinda direto de Sophia, para que voltasse a sua terra gelada, a ilha das seraphims, para uma convenção com todas as seraphims. Ela se despediu e montou em seu cavalo para uma longa viagem ao norte de Ancaria.

Como Juliana estava muito longe, ela foi a última seraphim a chegar e por conta disso tomou uma bronca de Sophia, que não quis saber se ela estava muito distante em missão nem que ela era uma de suas mais fortes comandadas.

Durante a convenção as seraphims treinavam entre si, mostrando umas para as outras seus golpes e magias, para que todas se aperfeiçoassem e a ordem das seraphims ficasse ainda mais forte. Antes disso, Sophia chamava em particular todas as suas guerreiras.

Quando chegou a vez de Juliana, que foi a última a ser chamada, a conversa apresentou uma desagradável surpresa:

Sophia: "Como você sabe, irmã Juliana, consigo acompanhar tudo o que se passa com minhas subordinadas. E vejo algo estranho contigo."

Juliana: "O que se passa?"

Sophia: "Vejo que fez amizades no campo do deserto com basicamente dois guerreiros: um mais jovem e um mais velho."

Juliana: "Sim."

Sophia: "O mais jovem é um amigo fiel. Estará sempre ao seu lado te defendendo".

Juliana: "Está falando de um com aparência de gato cujo nome é Cheshire?"

Sophia: "Sim."

Juliana: "E o mais velho é o Noed?"

Sophia: "Irmã, esse Noed é guerreiro das sombras."

Juliana: "Como assim? Tem algo errado. Está falando da mesma pessoa que eu estou pensando?"

Sophia: "Sim, e ele é traiçoeiro."

Juliana: "Não foi o que ele me disse."

Sophia: "Ele também é mentiroso."

Juliana: "Isso não é possível porque ele reverencia a Lumen!"

Sophia (exaltada): "Ele pode reverenciar a Lumen, ele pode reverenciar a Kybele (deusa da natureza), ele pode reverenciar a quem ele quiser que isso não quer dizer nada!"

Juliana: "Ele é meu amigo! Ele é bonzinho!"

Sophia: "Ele é bonzinho, ele é amiguinho, mas é um inquisitor!"

Juliana: "Ele não vai fazer nada de mal a mim."

Sophia: "Irmã, ele é guerreiro das sombras, ele é inquisitor! Inquisitores não são amigos de seraphims. A única coisa que eles gostam de fazer com as seraphims é ter seus nomes em seus livros de registros, de preferência cortando a cabeça.

‹pausa›

Sophia: Mas ele é um guerreiro poderoso. Se não tiver medo, se quiser uma boa luta, encare uma batalha com ele. Porém proteja-se, afie sua espada, endureça seu escudo e melhore sua técnica, pois pode ser derrotada."

Juliana: "Tem certeza disso?"

Sophia: "Eu já disse, ele é inquisitor, um guerreiro que busca causar o caos, ao contrário de nós seraphims, defensoras da ordem. Ele não tem moral e fará apenas o que melhor lhe aprouver. Ele se aproximara de você como amigo apenas para aprender seus golpes e magias, seus pontos fortes e fracos, para poder derrotá-la e se gabar de ter derrotado uma poderosíssima seraphim, sem se importar de ter usado um golpe baixo, pois lhe estudou. Eu apenas estou lhe mostrando quem ele é para não ter surpresas desagradáveis. Já pensou em ser desafiada por ele sem saber de suas intenções e que ele andou lhe estudando?"

Juliana: "Que coisa louca! Eu fiz amizade com um inquisitor!!"

Sophia: "Bom, já sabe. Se quiser lutar com ele, vá, mas lembre-se de minhas recomendações."

Juliana: "Sim, senhora!"

Sophia: "Só mais uma coisa!"

Juliana: "O que foi?"

Sophia: "Esse tal de Noed tem conseguido lhe ganhar no carteado porque tem escondido cartas nas mangas de sua falsa armadura prateada."

Juliana: "Por todos os demônios, agora eu mais do que nunca quero matar esse desgraçado!"

Sophia: "Sim, mas vá com calma. Não se esqueça de minhas recomendações, irmã."

Juliana se despediu e voltou ao treinamento com suas irmãs. A seraphim Juliana passou a se dedicar ainda com mais afinco ao treinamento com as outras seraphims e com a própria Sophia, de modo a aprender novas técnicas e, principalmente, tentar consertar seus pontos fracos.

3 - Ficando em Alerta

A convenção acabou e foi chegada a hora de voltar ao deserto para finalizar as missões.

Ao voltar ao deserto, Juliana voltou ainda mais determinada ao campo de treinamento, algo que todos os guerreiros perceberam. Ela continuou parceira de Noed. Entretanto, não confiava mais nele. E alertou Cheshire a respeito, que "caiu para trás" com a revelação:

Juliana: "Cheshire, você não faz ideia do que eu soube através de Sophia?"

Cheshire: "O que ela te contou?"

Juliana: "Que nosso digníssimo amigo Noed na verdade é um inquisitor!"

Cheshire: "Não é possível! Deve haver algum engano!"

Juliana: "Sophia nunca se engana. Se ela falou que ele é um inquisitor, é porque é. E ela disse mais. Falou que ele está próximo de mim para me estudar e me derrotar mais facilmente."

Cheshire: "Mas isso é muito sério! Será que não seria o caso de alertar os guardas do campo?"

Juliana: "E o que poderiam fazer contra um inquisitor? E depois, aparentemente ninguém mais sabe disso, tirando possivelmente seus comparsas."

Cheshire: "Mas que droga! Como nunca percebi que meu amigo era um guerreiro das sombras?"

‹pausa›

Cheshire: "Claro que ele não pode ser boa coisa. Ele foi recentemente ao show do Blind Guardian."

Juliana: "E o que que tem? Eu também fui e foi bem legal!"

Cheshire: "Como assim!? Foi no show desses metalheiros satanistas?! E onde, já que não foi no daqui?"

Juliana: "Eles não são satanistas. Têm músicas com som forte, mas letras legais. Não fui no deserto e sim na terra dos elfos, na cidade de Clearview, no caminho para a convenção. Por conta disso eu me atrasei mais um pouco até a convenção, algo que obviamente não contei a Sophia. Mas conhecendo-a bem e seus poderes de clarividência, de certo sabe."

‹pausa›

Juliana: "O importante é que Noed não pode saber o que sabemos sobre ele. Devemos manter total discrição."

Cheshire: "Realmente é o melhor a se fazer."

Juliana: "Sim, e Sophia ainda disse que ele é extremamente poderoso e que se eu quiser uma batalha contra ele, devo me preparar para isso."

Cheshire: "E você vai fazer a loucura de lutar contra ele? Você pode morrer!”

Juliana: "Apenas se ele tentar me atacar no deserto. Não vou lutar com ele apenas porque ele me desafiou. Obviamente nunca mais vou a uma missão somente com ele. Necessariamente levarei outro guerreiro comigo."

Cheshire: "Mas não tem nenhum guerreiro tão forte quanto vocês dois aqui que possa te defender. Melhor nunca mais ter missões com ele."

Juliana: "Aí ele vai perceber que sei algo sobre ele. Estando alerta já ajuda. Um inquisitor é lento na corrida. Inquisitores focam mais na magia negra do que na força e agilidade em seus treinos. Então, se eu correr, ele logo logo ficará para trás."

Cheshire: "De qualquer forma, tome muito cuidado!"

Juliana: "Sim! E vamos tratá-lo como se nada tivesse ocorrido."

4 - Ramon, o Elfo Negro

A seraphim Juliana estava arrumando sua casa que ficara fechada por alguns meses durante a convenção das seraphims quando bateram em sua porta. Quando abriu era um elfo negro que falava de maneira educada mas bem fria.

Ramon: "Bom dia! Meu nome é Ramon e estou impressionado com sua habilidade de luta. Venho te observando no campo de treinamento e quero te propor um desafio: lute comigo até a morte ao anoitecer na arena de Badawi, ao norte de Khorum, daqui a exatos sete dias. Não aceito não como resposta."

Juliana: "Desafio aceito, estarei lá no dia e horário acertado."

Depois que Ramon se foi é que Juliana pensou na fria em que poderia estar se metendo. O guerreiro era magrinho. Contudo, a seraphim já tinha enfrentado um elfo negro de porte físico esquálido antes que lhe resultara em uma cicatriz no antebraço e lhe dera muito, mas muito trabalho, por ser extremamente ágil e forte mesmo ostentando pouca massa muscular. Esse fora o único guerreiro de verdade que enfrentara e derrotara. Em geral ela só matava monstros, demônios, dragões, zumbis, esqueletos, ogres, etc. Alguns eram bem fortes. Entretanto, não eram lá muito inteligentes, ao contrário de guerreiros de verdade. Para piorar, ela já tinha observado Ramon em seu treinamento de longe. Embora não soubesse quem era aquele elfo negro, via que ele era forte e habilidoso.

Um dos motivos para ter aceitado o desafio é que há cem anos atrás, enquanto resolvia missões em Tylysium, um elfo chamado Ludu a vivia desafiando para uma luta na arena da cidade. Todavia, ele nunca aparecia no local na hora e data marcada. Ou seja, era um grande covardão! Então, ela julgava que Ramon seria o mesmo caso.

Só que ela estava enganada. Chegado o dia perto do horário, Ramon foi na casa de Juliana chamá-la:

Ramon: "Boa tarde! Então, seraphim, vamos para a arena, ou vai tremer?"

Juliana: "Não sei o significado dessa palavra. Vamos!"

Juliana, como toda seraphim, era orgulhosa e jamais daria o gostinho ao adversário de achá-la uma covarde. Ainda mais tendo dado sua palavra de que o iria enfrentar. Isso ainda seria uma boa oportunidade para treinar para uma possível batalha contra Noed caso sobrevivesse.

Ambos montaram em seus cavalos e partiram para Badawi. Enquanto o da seraphim era branco e bem tratado, o do elfo era negro e com aparência de ser explorado de maneira brutal.

Chegaram lá e a arena estava vazia. Não havia uma viva alma para testemunhar a batalha. Mesmo assim, Ramon acendeu todas as tochas ao redor para iluminar a noite que já estava chegando.

Mal terminou de acender a última tocha, foi para o meio da arena e desembainhou a espada. Com isso, Juliana segurou a sua e foi correndo para o meio da arena em sua direção.

A habilidade e agilidade de ambos era impressionante. As espadas batiam uma na outra e ninguém se feria. Com isso, nem a seraphim nem o elfo conseguiam tempo e espaço para lançar uma magia.

Até que o elfo feriu o antebraço da seraphim com a espada, justamente o que não tinha nenhuma cicatriz.

Juliana (provocando): "Isso é tudo o que pode fazer?"

Ramon: "Chegou seu fim!"

Começou a sair muito sangue, ela segurou o ferimento com a mão do braço intacto e começou a correr para fora da arena em desespero. Todavia o elfo era rápido e não a deixou escapar. Ele já estava com a espada para matá-la, quando ela conseguiu lançar uma magia congelante em desespero com o braço bom. Ele ficou congelado e ela quebrou o gelo com um chute, matando o elfo.

Juliana: "Descanse em paz!"

Juliana rasgou um pedaço de sua roupa e o amarrou na ferida para estancar o sangramento, e guardou a espada.

Juliana: "Foi só um arranhão!"

A seraphim pensou em pegar o amuleto do elfo, mas desistiu, achando que quem encontrasse seu corpo deveria enterrá-lo com ele.

Ao andar na direção de seu cavalo, começou a sentir uma tontura. Seu corpo todo estava enfraquecido; ela sentia como se uma energia maléfica estivesse ao redor de todo o seu corpo.

Juliana: "Por Sophia!"

Ficou-lhe óbvio que a espada de Ramon tinha alguma espécie de veneno ou magia. Ela foi andando desnorteada em direção a seu cavalo sem poder contar com a ajuda de ninguém, deitou em cima dele e ordenou para que voltasse para casa. Ela não se preocupou com o cavalo do elfo pois sabia que no dia seguinte alguém iria aparecer para cuidar dele.

O cavalo chegou em sua casa, ela entrou e se jogou no chão. Ela se sentiu mal por dois dias. Não avisou a ninguém nem buscou ajuda por conta de seu orgulho de seraphim. Apenas ficou rezando a Lumen e bebendo bastante água para que as toxinas saissem logo de seu corpo.

Quando finalmente ficou boa e saiu de casa, Cheshire a viu e perguntou:

Cheshire: "Por onde andou, Juliana? Você simplesmente sumiu por dois dias!"

Juliana: "Estive em missão. Apenas posso lhe dizer que foram bem-sucedidas."

Cheshire: "Mas está tudo bem?"

Juliana: "Sim. Vamos treinar!"

Cheshire: "Só se for agora!"

E ambos foram para o campo de treinamento.

Juliana, orgulhosa como toda seraphim, jamais contaria que ficou doente por conta de uma ferida. Aliás, ter sido ferida era motivo de vergonha para ela. Apesar disso, ela não gostava de ostentar seus feitos e apenas escrevera em seu livro de registros que derrotou um elfo negro, sem dar detalhes nem obviamente escrever que fora ferida por ele.

5 - Provocações

Nossa seraphim estava no ferreiro do campo afiando a espada e fortalecendo o escudo. Noed passou por ali e perguntou:

Noed: "Juliana, para que afia a espada e fortalece o escudo? Já é tão poderosa, não tem necessidade disso."

Juliana (séria): "Nunca se sabe quem eu vou enfrentar. Vai que aparece um guerreiro poderoso me desafiando?"

Noed (com sorriso sínico): "Sério? E quem poderia fazer isso?"

Juliana (ainda mais séria): "Nunca se sabe quem pode querer me desafiar. Pode aparecer algum inquisitor mal-intencionado por aí..."

Noed (ainda mais sínico): "Se isso acontecer, tope o desafio. Vai ser uma luta bem legal de se ver."

Juliana (braba): "Está louco? E se eu morrer?"

Noed: "Minha cara amiga, batalhas, cicatrizes e a morte fazem parte da vida de um guerreiro. Eu me recuso a lutar com um guerreiro sem cicatrizes, pois não tem graça. Guerreiro sem marcas é um guerreiro que nunca lutou, fraco, que será facilmente derrotado."

Nisso Juliana olhou para seus antebraços e viu uma cicatriz em cada um, sendo cada uma delas causada por uma luta dura com um elfo negro, sendo que Noed também era um elfo, mas branco, já que os inquisitores são todos elfos. Noed também reparou em suas cicatrizes e acreditava que ela possuía muito mais cicatrizes por baixo da armadura.

Noed: "Eu também, assim como você, possuo muitas cicatrizes. Ou seja, somos guerreiros experientes de verdade e não só em números, que não matam apenas monstrinhos ou ficam só se dedicando a treinos e sim enfrentamos adversários bem treinados. Você acha que eu iria querer lutar como alguém como Cheshire, que fica só treinando e só mata os monstrinhos fracos do deserto?"

Juliana ficou sem graça e não falou mais nada a respeito de possíveis cicatrizes, pois "apenas matara" dois poderosos elfos negros, que lhes deixaram no total duas cicatrizes em toda a sua existência de 900 anos. Seraphims são imortais se não forem assassinadas e em geral vivem reclusas em sua irmandade ou em templos ao lado de freiras. Na grande maioria das vezes apenas precisam matar monstros e só cumprem missões em Ancaria quando estritamente necessário. Matar guerreiros é algo que seraphims só fazem em último caso. Seraphims também não gostam muito de se misturar aos mortais por achar que só trazem problemas. E nossa seraphim Juliana vinha sentido isso na pele. O papo continuou com Juliana defendendo Cheshire:

Juliana: "Mais respeito com ele. Ele ainda é jovem e é SEU AMIGO!"

Noed: "Ele já tem nível o suficiente para matar mais do que monstrinhos. Nem monstros mais poderosos ele enfrenta. Com isso ele aumenta seu nível de experiência, ou seja, ganha em números, mas não tem experiência de verdade, na vida real. Eu prefiro desafiar alguém como você."

Juliana: "Não, muito obrigada! Tenho muitas missões a cumprir, sou uma seraphim muito ocupada. Não tenho tempo para perder com lutas inúteis."

Noed (com sorriso cínico): "O que foi, cara seraphim? Tá com medinho?"

Juliana (se segurando): "Não é nada disso! É que seria uma luta improdutiva. Somos dois guerreiros da luz que lutamos pelos mesmos objetivos, que é a manutenção da ordem em Ancaria."

Noed: "Ordem é algo relativo. De repente o caos pode trazer mais ordem do que você julga ser a ordem."

Juliana: "O que quer dizer?"

Noed: "Melhor deixar para lá. Não entenderá minhas ideias. Quanto à batalha, se mudar de ideia, fique sabendo que adoraria te enfrentar no meio do deserto."

Juliana: "Lembra-te de que você também pode morrer."

Noed: "Justamente a dificuldade da batalha é que a tornaria magnífica! Não importa o resultado, seria uma luta que todos gostariam de presenciar. Se ela vier a ocorrer de forma marcada com antecedência, chamarei todos para assistirem."

Juliana: "Espere sentado, pois não vou perder meu tempo lutando com você. Só lutarei com um guerreiro caso seja estritamente necessário."

Noed: "Se mudar de ideia, é só avisar. Agora preciso ir para minha casa no deserto. Tchau."

Juliana: "Tchau, que Lumen te abençoe!"

Juliana (pensando): "Eu vou apagar seu rosto feio do solo de Ancaria!"

Noed (pensando): "Sua alma pertence a mim!"

6 - A Casa do Inquisitor

Algo que sempre deixou Juliana curiosa era a respeito da casa de Noed. Ela sabia apenas que ele morava em um pequeno buraco embaixo das areias escaldantes do deserto, fora da cidade. Ela resolveu segui-lo e descobriu onde era o tal buraco. Como não tinha porta, de certo havia alguma armadilha para pegar incautos que tentassem entrar ali. Então, para ele era um lugar seguro. Juliana então planejou entrar lá quando ele estivesse no campo de treinamento.

No dia seguinte, enquanto Noed estava treinando, ela foi lá em sua alcova. Ao chegar na entrada, jogou uma pedra em direção ao buraco, que foi pulverizada. Jogou outra e novamente viu a pedra ser dissolvida. Aí resolveu jogar duas pedras, uma após a outra. A primeira foi pulverizada, enquanto a segunda passou. Para entrar, ela então jogou uma pedra e ao mesmo tempo usou toda sua a velocidade para correr para dentro do buraco. Enquanto a pedra foi destruída, ela passou ilesa.

O local era um buraco pequeno e abafado com imagens sinistras e demoníacas, principalmente de Ker. Havia também uma estante com muitos livros. Ela resolveu olhar mais detalhadamente os volumes e viu livros sobre Ker, técnicas de tortura, técnicas de luta, técnicas de conversão, história da inquisição, forças ocultas, magia negra, etc, algo bem razoável de se encontrar na casa de um inquisitor. Não era possível negar que, apesar do extremo mau gosto literário, Noed era um intelectual.

Numa mesinha havia um caderno bem grosso de anotações: era seu livro de registros. Juliana resolveu folheá-lo e viu o registro de derrota de muitos monstros e guerreiros. Em todos os casos havia detalhes sórdidos capazes de chocar os mais sensíveis. Na grande maioria dos casos, os guerreiros mortos eram guerreiros da luz, sendo muitos deles mortos pelas costas, depois de muito estudo (algo semelhante ao que ele pretendia fazer com Juliana), ou com tortura para tentar convertê-los a Ker e fazê-los se dedicar a causar o caos em Ancaria. Ela não olhou o livro todo devido a sua extensão. Entretanto, nas páginas olhadas não achou uma seraphim sequer. Seria apenas por isso que estaria em volta dela?

Tirando o exposto acima, parecia uma "casinha normal" até ela chegar na cozinha. A cozinha parecia também normal até ela resolver abrir a geladeira. O cheiro de podre era terrível e lá dentro tinha vários pedaços de corpos. Pior foi quando resolveu abrir o congelador, onde encontrou muitos olhos e línguas congeladas. Com isso ela sentiu uma tontura e caiu sentada no chão.

Ela percebeu com o barulho da queda que embaixo dela o chão era oco. Então ela viu que na verdade tinha caído em cima de uma passagem secreta que dava para uma espécie de porão, que conseguiu abrir facilmente. Ali ela via que tinha uma escada. Porém não conseguia enxergar mais nada. Dentro da casa de Noed havia iluminação solar, já que não havia porta.

Juliana pegou um pedaço de madeira preso à parede, usou uma magia para acender uma tocha e desceu as escadas. O cheiro de podre era insuportável e percebia o chão extremamente pegajoso. Ela achava que era limo até se abaixar e ver onde estava pisando: era puro sangue!

O local era grande, bem maior que a casa de "seu amiguinho". E era assustador também. Havia crânios empilhados, pedaços de corpos espalhados e todo tipo de aparelho de tortura, todos eles sujos com muito sangue e restos de corpos.

De repente, ela escutou um barulho. Juliana foi andando em direção ao som e chegou a uma sala com uma escultura de Ker gigante. O som vinha de uma jaula em um altar aos pés da estátua. Era uma seraphim, a irmã Ádria, que não havia comparecido à convenção e de quem Sophia não havia tido mais notícias. Provavelmente nem Sophia conseguia ter poder para ver o que se passava no esconderijo de Noed por algum encanto que ele aplicara ao local, escondendo-o de quem tem clarividência.

Juliana abriu a jaula com uma chave que estava numa mesinha próxima e conversou com Ádria:

Juliana: "Irmã Ádria, o que houve? Como foi parar aí?"

Ádria: "Estava passando pelo deserto e quando dei por mim acordei dentro dessa jaula com uma baita dor de cabeça."

Ádria então contou tudo o que se passou, lembrando-se de seu diálogo inicial com Noed:

Ádria: "Onde estou? O que aconteceu? O que faço aqui? Quem é você?"

Noed: "Bom dia, cara seraphim! Sou o inquisitor Noed e você está em meu altar em devoção a deusa Ker, a deusa do caos. Trouxe você para cá devido à necessidade de fazer um sacrifício a Ker. Fique honrada pois seu sangue será servido à Ker. Como sei que não viria por livre e espontânea vontade, precisei te nocautear pelas costas."

Ádria: "Bem típico de um inquisitor, um ataque à traição!"

Noed: "Não diga isso! Se nós lutássemos, você sofreria mais. Agora você provavelmente só está com dor de cabeça. Não se preocupe pois terá tempo de se recuperar. O sacrifício só ocorrerá daqui a três meses, quando for o dia do festejo do nascimento do filho de Ker."

Ádria: "Eu exijo que me tire daqui agora!"

Noed: "Sinto muito, mas não posso fazê-lo. Preciso muito de seu sangue, senão Ker pode ficar enfurecida. E não tente lutar, a situação está totalmente fora de seu controle. Você é uma guerreira inexperiente e não teria chances contra mim."

Ádria: "Como ousa achar que sou uma guerreira inexperiente? Meu nível de experiência é 30!"

Noed: "Primeiramente, cara amiga, você não possui cicatrizes em seu corpo, o que prova que nunca entrou numa batalha de verdade. Enquanto estava desmaiada, te analisei, justamente porque preciso de uma seraphim de pele sem marcas na pele para o sacrifício. É muito difícil encontrar uma seraphim dando sopa por aí, pois vocês são reclusas. E em segundo lugar, além de já ter matado adversários poderosos de verdade, meu nível de experiência é bem acima do seu; não teria a menor chance contra mim. Conheço uma outra seraphim além de você, só que essa possui cicatrizes. Além disso, ela é muito poderosa e uma luta contra ela pode ter resultados imprevisíveis."

Ádria (chorando): "Você não pode fazer isso!"

Noed: "Sem choro, por favor! Você não pode mudar sua situação. Apenas conforme-se. Você pertence a Ker e Ker pertence a você."

Ádria (gritando em desespero): "Não!"

Depois de se lembrar desse diálogo, Ádria falou:

Ádria: "Noed sempre foi muito bem educado e você jamais diria que seu objetivo era me matar. Seu comportamento parecia demonstrar bondade..."

Juliana: "Já deu para perceber que ele é alguma espécie de psicopata."

Ádria: "Com certeza! Eu presenciei torturas aqui e precisava ver como ele tratava os guerreiros em dores lancinantes. Seu olhar e fala não demonstrava que ele estava fazendo tão mal a suas vítimas. Além disso, nunca deixou que me faltasse alimento. Afinal, uma seraphim desnutrida teria pouco sangue. Eu até tentei fazer greve de fome. Porém Noed avisou que se eu fizesse isso me aplicaria uma magia que me faria comer contra a minha própria vontade."

Juliana: "Você pode correr bem rápido para escapar de uma armadilha na porta da casa dele?"

Ádria: "Não muito, pois fiquei presa por muito tempo."

Juliana: "Então, para sair daqui, vou te pegar no colo, jogar uma pedra para fora e correr contigo. A pedra será pulverizada mas não nós duas se formos bem rápido."

Elas subiram a escada, fecharam o alçapão, Juliana pegou Ádria no colo, jogou a pedra que tinha escapado da armadilha anteriormente e correu com Ádria para fora. Pronto, elas estavam livres!

Juliana: "Vou te esconder na casa de meu amigo Cheshire até à noite e de madrugada deve rumar para Teardrop Hamlet, já na terra dos elfos, ao norte do deserto, tomando cuidado com os monstros mutantes."

Ádria: "Não se preocupe, eles são bem fraquinhos!"

Ambas foram até a casa de Cheshire, que ficou assustado com a estória:

Cheshire: "Caramba! Nunca pensei que Noed pudesse ser tão ruim assim!"

Juliana: "Mas é! Preciso que esconda irmã Ária até a madrugada quando ela fugirá até Teardrop Hamlet."

Cheshire: "Pode contar comigo!"

Ádria: "Não tenho palavras para agradecer a ambos! Muito obrigada!"

E assim foi feito. Ádria ficou escondida na casa do Cheshire até de madrugada e conseguiu fugir com sucesso até Teardrop Hamlet!"

Chegando à noite, Noed voltou da taberna meio alto depois de beber com seus comparsas das sombras após saírem do treinamento. Ele não estranhou a ausência da seraphim nos treinos pois eles só ficavam lá quando não estavam em missão. Ao chegar na porta de casa e desabilitar a armadilha na porta no momento de passar, percebeu um pó dentro de casa. Logo viu que alguém tinha tentado entrar na sua alcova. Resolveu fazer uma ronda e viu um pedaço de pau queimado. Ou seja, alguém tinha realmente conseguido entrar em sua casa. Ele desceu até o porão e notou que Ádria não estava lá. Ele ficou enfurecido, indagando quem poderia ter entrado lá e gritou, agindo como se ele fosse um mocinho:

Noed: "Isso não ficará assim! Ker, não deixe que esse bandido fique impune! Eu vou descobrir o desgraçado que fez isso e estragou o sagrado ritual da inquisição!"

Noed sequer poderia pedir a ajuda de alguém no deserto para tentar descobrir o que aconteceu. Mesmo guerreiros das trevas desaprovariam sua atitude de cometer sacrifícios de seres racionais, coisas feitas em Ancária sempre na surdina.

7 - A Filha Problema

Noed estava no campo de treinamento conversando com seus comparsas a respeito da invasão de sua casa. Juliana se escondeu atrás dos cactus e ouvia tudo.

Noed: "Estou uma fera! Invadiram minha casa e furtaram um objeto precioso!"

Titanius: "Sério! E o que roubaram?"

Noed: "Um objeto precioso."

Titanius: "Mas que objeto? Dizer que é precioso é muito genérico."

Noed: "Para que você quer saber qual objeto era?"

Martin: "Era algo ilegal, roubado? Por que não quer dizer qual objeto era?"

Brutus: "Deve ser uma garrafa de Wisky e ele não quer dividir se a achar cheia (hic). Te garanto que não fui eu (hic)!"

Noed: "Vocês estão querendo que eu corte a cabeça de vocês? Não estou de palhaçada!"

Um guarda do campo chegou e abordou Noed. Todos acharam que era pelo tom da conversa. Porém o motivo era outro:

Guarda: "Noed, pegamos uma elfa ladra de nome Shirka Alana em flagrante na cidade e a prendemos. Ela alega ser sua filha e quer te ver."

Noed: "Mas que droga! Não tenho sossego por onde passo! Essa minha filha só me dá dor de cabeça!"

Titanius: "Não sabíamos que tinha uma filha."

Noed: "Não gosto de falar de coisas ruins."

Brutus: "Ela é bonita (hic)!?"

Noed: "Quem fizer qualquer outra piada sobre ela morrerá aqui mesmo!"

Guarda: "Ordem! Vocês três, seus inúteis, circulando! Noed, venha comigo!"

E lá foi Noed ver sua filha na cadeia. Juliana os seguiu.

Chegando lá, Juliana teve que ficar de fora da cadeia. Se entrasse junto seria vista. O seguinte diálogo ocorreu lá dentro:

Shirka: "Pai, que bom te ver! Tira-me daqui!"

Delegado: "Para livrá-la a fiança custa 1000 moedas de ouro!"

Noed: "Por que deveria te ajudar! Tá achando que sou rico?"

Shirka: "Sou o que sou por culpa sua, por ter me abandonado antes mesmo de eu nascer. Então, tem que pagar, você me deve! Senão, ao sair vou dar um jeito de ferrar sua vida. Contarei a todos no deserto o que sei sobre você!"

Noed: "Está bem, você venceu! E o que fará com a liberdade?"

Shirka: "Morarei temporariamente contigo."

Noed: "O quê!? Está louca! Isso nunca!"

Shirka: "Acho bom me ajudar, senão..."

Noed: "Está bem! Você venceu novamente."

Noed pagou o valor ao delegado e levou Shirka Alana até sua casa. Todo dia ela ia junto com ele para onde ele quer que fosse, não o deixando à vontade. Ela só não ia ao porão junto com ele porque ele só ia lá quando ela dormia.

Juliana uma vez ouviu o papo dos comparsas de Noed sem a presença dele:

Brutus: "A filha do Noed é a maior gata! Se ele der mole eu vou tentar dar uns pegas nela!"

Martin: "Brutus, ela é comprometida com um ladrão chamado Semil. Melhor não se meter com ela."

Titanius: "E ainda por cima o Noed não iria querer um tipo como você dando em cima da filha dele. Ele pode não se dar com a filha, mas ainda assim é filha. Ele te cortaria a cabeça caso tentasse. Se ele não ligasse para ela, não viveria tirando-a das encrencas que vive arrumando. "

‹pausa›

Titanius: "Ele nem consegue mais conversar com a gente direito por causa dela, que não o deixa em paz. Ela quer escutar tudo o que ele fala. Tô achando que ela o chantagia de alguma forma."

Juliana escutou a última frase e achou que ela o estava ameaçando de contar para todos sobre o fato de ele pertencer à inquisição.

Passados alguns dias com Noed tendo que aturar os desmandos da filha sob a ameaça de o fato de ser inquisitor ser revelado, ele estava uma noite dentro de seu porão torturando um guerreiro quando Shirka apareceu e observou a cena.

Shirka: "É, pai, também acho a sensação de ver alguém sofrendo muito gostosa."

Noed: "Shirka, o que está fazendo aqui? Vai já embora!"

Shirka: "De jeito algum! Quero saber tudo o que meu pai faz a serviço da inquisição."

Shirka observa o local e vê uma jaula próxima à estátua de Ker.

Shirka: "Você também faz sacrifícios para Ker? Adoraria assisir a um ritual!"

Noed (irritado): "Ker, a culpa não foi minha! Eu não tenho culpa que invadiram minha casa e resgataram a oferenda! Não é justo que me puna desta forma!"

Shirka: "A que se refere?"

Noed: "Quer mesmo saber? Raptei uma seraphim para sacrificar em ritual para o filho de Ker. E ela simplesmente sumiu! Alguém veio aqui e a soltou. Não foi você não, né?

Shirka: "Eu não poderia ter feito isso porque nem sabia que você tinha este espaço. E, depois, adoraria ver o ritual. Mais ainda, eu detesto seraphims, não teria motivos para ajudar uma a fugir."

Noed: "Também detesto seraphims. Estou roxo para matar a IRMÃ Juliana, mas não encontro brecha para isso. Ela não cai em minha conversa de duelar no deserto. Lá eu conseguiria matá-la sem ser punido. De certo eu a venceria em um duelo."

Shirka: "Pai, esqueci de te contar ontem que Semil está vindo para Khorum e quero que fique hospedado aqui na sua casa."

Noed: "O quê? Que raios de pai pensa que sou? Onde está com a cabeça que vou deixar você dormir com SEU namorado na MINHA casa?"

Shirka: "Deixa de ser careta! Os tempos são outros."

Noed: "Isso vai contra os meus princípios e ao de qualquer inquisitor. Você sabe que isso fere os meus princípios religiosos. Minha resposta é NÃO!"

Shirka: "Então todo mundo na cidade vai saber quem é você de verdade."

Noed: "Quer saber! Vai lá e conta logo! Deixar você dormir com seu namorado na minha casa é que não vou deixar. Isso nunca! Saia já de minha casa!"

Shirka: "Deixa ao eu menos ver o fim da tortura."

O pobre torturado não sabia se se sentia aliviado com a pausa no sofrimento ou mais angustiado ao ver que o inquisitor estava irritado e poderia ser ainda mais cruel.

Noed: "Rua! Sai fora da minha casa! Some! Desaparece!"

Shirka então subiu, pegou suas poucas coisas, desarmou a armadilha da porta e foi embora ainda de madrugada. Noed subiu para rearmar a armadilha e foi dormir, resolvendo continuar a tortura na madrugada do dia seguinte.

Ao amanhecer, Shirka foi contando a todos que encontrava que Noed era um inquisitor, que tinha câmara de tortura e que fazia sacrifícios a Ker. Ela fez questão de espalhar isso a todos no campo de treinamento. Após isso, se encontrou com Semil na taverna e se mandou para Tyr Lysia, a terra dos elfos. Todos os guerreiros, mesmo os das trevas, ficaram apreensivos. Afinal, inquisitores eram conhecidos por serem extremamente traiçoeiros e interesseiros.

O único que pareceu ficar alegre era Brutus:

Brutus: "Que legal! Quer dizer que eu sou amigo de um inquisitor! (hic!)"

Titanius: "E desde quando isso é bom? Inquisitores não são amigos de ninguém. Eles só gostam de si mesmos."

Brutus: "É só ficar ligado que nada vai acontecer (hic). Ele é poderoso e pode nos ajudar muito nos treinos e missões."

Titanius: "E desde quando você fica ligado em alguma coisa bêbado desse jeito?"

Martin: "A preocupação de Titanius é legítima. Ele será nosso amigo apenas enquanto lhe interessar."

Juliana passou por perto e disse:

Juliana: "Eu já sabia há muito tempo, pois Sophia me contara na convenção das seraphims."

Titanius: "E por que você não nos contou antes? Isso é muito sério!"

Juliana: "E por que eu contaria isso para tipos como vocês? Além disso, não acreditariam em mim."

Quando Noed saiu de casa para ir ao campo de treinamento começou a ouvir o maior bafafá ao chegar na cidade. Ele nunca chegava cedo aos treinos pois sempre ficava de madrugada em seu porão. Muitas pessoas o xingavam. Ao chegar lá seus comparsas vieram falar com ele, já que Martin e Titanius estavam apreensivos.

Titanius: "É verdade isso que sua filha andou espalhando por aí?"

Noed: "Claro que não, meu caro! Estou sendo vítima de boatos da minha enlouquecida filha."

Titanius: "Mentiroso! A ordem das seraphims já sabe a respeito de sua ligação com a inquisição."

Noed: "Malditas seraphims! Não vejo a hora de ver Nimonuil acabando com essa ordem desgraçada!"

Titanius: "Quem é esse tal de Nimo alguma coisa?"

Noed: "Já que sabem a verdade sobre mim, Nimonuil é o chefe da inquisição, quem apoia o Príncipe Marho a subir ao trono do deserto de Bengaresh. Já a maldita seraphim apoia o irmão do rei morto, Al Sadim. Ela o apoia porque ele manterá a ordem por aqui, enquanto Marho certamente será tirano mas recompensará a inquisição generosamente caso chegue ao poder."

Titanius: "Ou seja, por dinheiro e poder você fará qualquer coisa, podendo até se livrar da gente!"

Noed: "Não digam isso, vocês são meus parças! Sou inquisitor, sou mal, mas não sou ingrato! Vocês já me ajudaram muito enquanto estive por aqui."

Noed (pensando): "Por que precisaria me livrar de um qualquer como você, Titanius, ou estes outros dois inúteis? Já Nimonuil, sua hora vai chegar! Eu ainda serei o líder da inquisição!"

Brutus: "Viu (hic), estavam se preocupando à toa."

Titanius (cochichando para Martin): "Não sei não, melhor ficarmos de olho nele."

Noed: "O que estão cochichando aí?"

Titanius: "Você não tem seus segredos? Nós também temos os nossos. Aliás, a sua filha revelou que o que foi roubado de sua casa foi uma seraphim que pretendia sacrificar. Não sabíamos que chegava ao ponto de fazer isso."

Noed: "Inquisitores fazem sacrifícios. Ker exige isso. Isso é normal."

Martin: "Espero que não pense em sacrificar a gente."

Noed: "E vocês acham que Ker vai querer um bando de guerreiro barbado? Ela quer seraphims, jovens, cordeiros, etc."

Martin: "Menos mal. E por que não sacrifica a Juliana?"

Noed: "Porque possui cicatrizes. A seraphim tem que ter pele sem marcas."

Martin: "E o que pensa em fazer com ela?"

Noed: "Tentarei convencê-la a duelar comigo para poder matá-la. E preciso que Nimonuil dê um jeito em Sophia. Senão, toda a ordem delas pode vir atrás de mim."

Titanius: "E se ela te matar?"

Noed: "Isso faz parte de um combate. Só sei que se o duelo ocorrer, e ele vai ocorrer, quero que assistam, porque será magnífico!"

‹pausa›

Noed: "Ao menos agora não preciso mais usar esta armadura horrorosa. Poderei voltar a usar minha túnica de inquisitor por aí. Já estou sendo hostilizado por todos mesmo..."

8 - O Príncipe do Mal

Se tinha algo que incomodava tanto o Príncipe Marho quanto Al Sadim eram os monstros do deserto. Para irem de uma cidade a outra, era necessária uma caravana com guerreiros abrindo espaço. O príncipe do mal era até um excelente e temido guerreiro, mas preguiçoso, sempre delegando o trabalho sujo aos seus servos. Ele se achava muito bom para matar monstros. Até mesmo delegava a morte de guerreiros inimigos. Ele só fazia questão de matar pessoalmente alguém quando via que o guerreiro adversário era realmente muito forte.

No deserto havia muitos monstros, como besouros, escorpiões, ambos os bichos em versão gigante, aranhas gigantes, e os temidos guerreiros de pedra. À primeira vista, eles eram apenas estátuas. Porém, chegando mais perto, eles atacavam com lanças, flechas, machados, etc. Eram esses monstros os que mais incomodavam ambos os sucessores ao trono.

A seraphim estava treinando no deserto junto com Cheshire quando chegou um pergaminho do guarda a ela. A correspondência vinha justamente de Al Sadim, pedindo para dar cabo de vários desses guerreiros de pedra numas dunas onde sua caravana passaria.

Juliana: "Cheshire, quer ir comigo mandar para o descanso eterno alguns guerreiros de pedra?"

Cheshire: "Só se for agora! Mas antes vamos ver se há novos equipamentos à venda."

Eles foram às barracas e avistaram como novidade um kobold vendendo vários pedaços de armadura.

Kobold: "Kaput, kaput, kaput! Meus equipamento é os melhor da região!"

Juliana analisou as botas, joelheiras, luvas, etc e achou tudo de qualidade duvidosa. Então, cochichou para Cheshire:

Juliana: "Aqui só tem lata velha. Vamos embora!"

Kobold: "Kaput! Não vão levar nada!? Aqui vocês sairá protegido!"

Juliana (puxando Cheshire): "Muito obrigada, mas não há novidades. Nossos equipamentos ainda estão muito bons e por enquanto não precisamos de novos."

Eles foram até o estábulo, montaram em seus cavalos e quando estavam chegando ao local indicado num mapa que veio no pergaminho, eles avistaram Brutus correndo desesperado na direção de Khorum sem o cavalo. Ao pé da duna viram Martin parado com cara de panaca observando o alto das dunas, onde avistaram Titanius e Noed lutando e sendo cercados pelos guerreiros.

Juliana e Cheshire subiram correndo as dunas com as espadas em punho, para alívio de Titanius e Noed. Juliana gritou algo que os guerreiros de pedra não entenderam, por serem seres irracionais:

Juliana: "Rendam-se ao poder da seraphim! Como trovões e relâmpagos explodem as rochas, vocês devem se quebrar com o meu punho!"

Os dois começaram a atacar as estátuas vivas e os quatro guerreiros juntos mataram mais de cinquenta estátuas.

Juliana: "A serva do Criador não tolera resistência!"

Noed (irônico): "A serva do Criador tornou a inquisição vitoriosa!"

Juliana: "Se não fosse por nós dois vocês estariam mortos!"

Noed: "Não subestime a força da inquisição! Além disso, temos um príncipe poderoso ao nosso lado, enquanto Al Sadim é só um velho gordo e inútil."

Juliana: "Como se você fosse jovem e magro. Se não fosse por sua magia, seria um fracote como Martin, que nem teve forças e coragem para subir aqui!"

Martin: "Ei, eu estou escutando! Não me subestime, maldita seraphim!"

Juliana: "Suba aqui e venha me pegar, seu panaca!"

Enquanto discutiam, o príncipe Marho apareceu do nada em toda sua glória e poder.

Marho: "Seraphim, você é muito poderosa! Desafio-te a um combate! Venha atrás de mim!"

Juliana (se preparando para o combate com a espada na mão): "Tema o poder da guerreira dos céus!"

Cheshire: "Ei, Juliana, a frase não é bem essa!"

Noed: "O que foi seraphim de meia tigela? Por que não diz a frase que uma seraphim deveria dizer?"

Titanius apenas riu muito, enquanto o príncipe ficou parado, olhando sério, e Juliana uma fera com todos a sua volta. Quando Juliana resolveu avançar para cima do príncipe, Cheshire a segurou e a impediu de correr.

Cheshire: "Juliana, não percebe que é um holograma? O príncipe jamais poderia ter aparecido assim sem estar por perto e ainda por cima sendo abanado por seus servos."

O príncipe sempre estava rodeado por servos abanando-o. E quando alguém ia falar com ele, estava sempre recostado em almofadas e deitado em tapetes luxuosos. Era raro vê-lo em pé.

Juliana: "Solte-me, pois vou matá-lo agora!"

Cheshire: "Acalme-se!"

Juliana se soltou e tentou atacar o príncipe. Só que sua espada apenas atravessou sua imagem, o que causou a risada debochada de Marho e dos demais guerreiros das sombras.

Marho: "Ha ha ha! Venha atrás de mim!"

Noed: "Espere, Vossa Magestade! Deixa que eu cuido da seraphim! Quero ter o privilégio de matá-la!"

Marho: "Então espero que não venha a falhar nessa missão!"

A imagem de Marho sumiu e Juliana disse:

Juliana: "Noed, não te darei o gostinho de me enfrentar!"

Noed: "Se quiser que a ordem prevaleça no deserto, isso terá de acontecer mais cedo ou mais tarde!"

Todos foram embora e Cheshire conversou com Juliana.

Cheshire: "Por que hesita em atacar Noed mas não Marho?"

Juliana: "Foi o impulso. Eu tenho a convicção de que lutar contra Noed será algo que poderá tirar a minha vida. Já Marho eu não conheço."

Cheshire: "Tome cuidado! Um adversário desconhecido como esse príncipe pode ser muito pior do que um conhecido como o inquisitor. O pior é que mais cedo ou mais tarde terá de enfrentar os dois."

Juliana: "Eu sei, por isso que tenho treinado com tanto afinco!"

9 - Más Lembranças

Passados alguns meses depois da luta com Ramon, Juliana precisou voltar ao local da arena, em Badawi, para uma rápida missão. Quando chegou lá, toda a luta lhe veio a mente, o que lhe causou calafrios. Ao chegar, ela encontrou o cavalo do elfo negro bonito e vistoso e um velho pastor cuidando dele.

Juliana: "Este cavalo é seu?"

Pastor: "Encontrei este cavalo preso e largado ao lado da arena. Acredito que era do elfo negro morto com técnica de congelamento que estava lá dentro. Afinal, elfos negros não tratam bem seus cavalos por serem maus. Tanto que coloquei o amuleto dele no pescoço do cavalo. Venho tratando-o desde então e agora está esta belezura."

Juliana: "E ele é dócil?"

Pastor: "No início, não. Mas nada como tratar um bicho com amor e carinho que ele se transforma."

‹pausa›

Pastor: "Perto do corpo do elfo havia sangue. A espada dele também continha sangue. E não era dele, porque foi morto por congelamento. Deve ter sido de seu adversário, cujo corpo não vi."

Juliana: "O que quer dizer com isso?"

Pastor: "O óbvio, cara seraphim! Se o elfo feriu seu adversário, ele deve ter morrido não muito longe daqui, já que a espada dos elfos negros é envenenada."

Juliana ficou pensativa e calada. Havia sido isso que a deixara tão mal pouco depois da luta. Provavelmente um milagre de Lumen a havia salvado.

Ela se despediu do pastor e foi cumprir a missão. Logo depois, voltou para sua casa em Khorum.

10 - A Seraphim Degenerada

A vida andava estressante para Noed. Tudo o que ele fazia para adquirir o artefato mágico para que o príncipe Marho obtesse o poder dava errado porque Juliana se intrometia e o impedia sem que ele o soubesse. Ele sabia que a única chance de ter sucesso era ter um companheiro esperto e poderoso o bastante para auxiliá-lo. Juliana, que já o tinha ajudado no início, agora era inimiga declarada e as missões de ambos sempre se anulavam. Apesar disso, mesmo se detestando, continuavam a jogar cartas juntos, sempre com muitas ironias e olhares sínicos da parte de Noed e com Juliana prestando total atenção para que ele não escondesse cartas na manga. Noed contava com a torcida de seus comparsas. Já Juliana jogava sem o apoio de Cheshire porque ele se recusava a entrar em tavernas, julgando ser lugar de pecadores. Aliás, ele vivia implicando com a seraphim por entrar lá.

Num desses dias, enquanto estavam jogando, entrou uma estranha "mulher" na taverna. Ela possuia o cabelo loiro bem curto, quase careca, usava botas negras com salto agulha, lingerie e cinta ligas, também pretas, e batom vermelhão. Além disso, falava alto e era extremamente espalhafatosa, logo chamando a atenção de todos e deixando Juliana apreensiva. A mulher, na verdade, era uma seraphim degenerada ou, como era conhecida, uma seraphim negra, que se convertera a Ker e deixara todo o seu lado santo para trás. Apesar não ter mais asas, ainda possuia os olhos sem pupilas e a máscara tatuada em seu entorno, o que fez com que Noed e seus comparsas a reconhecessem como tal e também ficassem apreensivos.

A seraphim negra reconheceu Juliana e disse, sempre falando alto:

Maria: "Você por aqui junto de um inquisitor, irmã Juliana? Vai querer também largar esse tedioso Lumen e se voltar a Ker para também procurar o caos? Como seu belo amigo aí sabe bem, o mal é sempre mais gostoso!"

Noed: "Grande verdade! Qual sua graça, belezoca?"

Maria: "Sabe que gostei do seu jeito? Está solteiro?"

Juliana (furiosa): "E desde quando seraphims se envolvem emocionalmente com mortais, irmã Maria?"

Maria (cínica): "Está com ciúmes, irmã Juliana? Saiba que vi esse gatinho primeiro! Depois, não sigo a chatérrima Sophia. Portanto, faço o que bem quero."

Noed: "Gostei também de você. Fala exatamente a minha língua. Eu sou Noed, o temível inquisitor."

Juliana abandonou o jogo e saiu da mesa irritada para a graça Noed, Maria e seus comparsas.

Noed juntou as cartas e perguntou a Maria:

Noed: "Não quer jogar comigo?"

Maria: "Detesto baralho, não consigo ver graça nenhuma num carteado. Prefiro apenas um bom vinho e um bom papo."

Titanius: "Brutus e Martin, vamos embora deixar os pombinhos juntos."

Titanius (cochichando aos comparsas): "De repente, se Noed arrumar uma nova esposa e tiver outro filho, pode ser que ele amanse e não seja mais tão cruel. Isso pode ser bom!"

Martin (também cochichando): "Pode ser, mas ele também pode abandonar a família, como fez com a ex-esposa, deixando-a ainda grávida da filha dele. Só o tempo irá dizer. Ele está mais velho e a idade nos faz mudar."

Brutus (falando alto): "Hic, dois seres do mal juntos lançarão caos ao quadrado em Ancaria!"

Titanius (cochichando): "Cala a boca, seu imbecil, e vamos embora!"

Maria e Noed ficaram a sós e conversaram algo que deixaria seus comparsas de cabelo em pé.

Noed: "Estou mesmo precisando de uma parceria em minhas tarefas. E nós dois juntos podemos juntar o útil ao agradável."

Maria: "No que posso ser útil além de ser companheira? Que tramóias pretende fazer?"

Noed: "Minha maior necessidade no momento é acabar com essa fase de zica que venho passando. Roubaram a seraphim que eu iria sacrificar no ritual para o dia do festejo do nascimento do filho de Ker. Desde então Ker vem me punindo e nada mais dá certo em minha vida. Oh vida, oh azar!"

Maria: "Seraphims agradam a Ker. Mas do que a deusa do caos gosta mesmo é de sangue de crianças."

Noed: "Eu até sei disso. Mas isso seria cruel demais."

Maria: "Um inquisitor sem crueldade não é um inquisitor. E quanto mais, melhor! Nimonuil de certo aprovaria qualquer coisa que beneficiasse a inquisição!

Noed: "Tem razão, gracinha! Mas como vamos raptar crianças sem chamar muita atenção?"

Maria: "Não podemos pegar crianças aqui de Khorum. Juliana já salvou crianças que eu iria usar em um ritual. Ela soube do sumiço por estar na mesma cidade. Se pegarmos crianças lá de Teardrop Hamlet, até ela e Sophia ficarem sabendo, o sacrifício já terá sido feito e ela não poderá fazer mais nada."

Noed: "Onde está hospedada em Bengaresh?"

Maria: "Pois é, não tenho casa. Em geral, durmo em cavernas mesmo."

Noed: "Não quer ir morar comigo? Minha casa é pequena mas preciso mesmo de uma companheira."

Maria: "Vamos, então, acho que formaremos uma dupla perfeita."

Noed: "Como sou conservador e muito religioso, precisamos nos casar primeiro. É só invocar Nimonuil por holograma que ele realiza a cerimônia religiosa, abençoando nossa união em nome de Ker."

Maria ficou fascinada com a armadilha da entrada da casa de Noed, algo com tecnologia que inquisitores não costumam usar; apenas seraphims.

Entrando em casa, Noed invocou Nimonuil, que apareceu com seu costumeiro mau-humor:

Nimonuil: "Para que me incomoda, seu inútil?"

Noed: "Preciso que me case com ela urgentemente. Vamos morar juntos e não quero fazê-lo sem antes estar casado."

Nimonuil: "Enloqueceu! Vai se casar com uma seraphim!?"

Maria: "Queridinho, sou uma seraphim negra, adoradora de Ker. Sou uma aliada, não inimiga, seu idiota!"

Nimonuil: "Hum, gostei de você! Tem o espírito de uma inquisitora! Está bem, vou casá-los!"

Nimonuil então realizou uma rápida cerimônia, que possuía os seguintes dizeres na hora da promessa: "Prometo estar contigo na alegria, na saúde e na riqueza, enquanto a paixão estiver intensa. Quando ela esfriar, na tristeza, na doença e na pobreza, estou livre para ir para onde eu bem entender!"

Ao terminar a cerimônia, Maria conheceu melhor e adorou a decoração sinistra, e gostou principalmente do porão. Eles reverenciaram a estátua de Ker. Numa mesa ao lado da estátua, tinha um livro entitulado "Sacrifícios a Ker". Maria folheou o livro e disse:

Maria: "Aqui fala de crianças, veja! E também fala de Seraphims com nível acima de 50."

Noed: "A Juliana tem nível inferior a isso. Não serve. E depois fazer isso vai ser complicado se ela chegar a esse nível. Prefiro matá-la em um combate. Eu já tinha visto essa parte das crianças, mas nunca dei atenção para isso porque sempre achei desnecessário chegar a esse ponto."

Maria: "Mas é justamente isso o que mais agrada a deusa do caos! Perdeu é tempo!"

Noed: "Então, como faremos?"

Maria: "Vou para Teardrop Hamlet me apresentando como uma seraphim normal, o que fará com que as crianças sejam atraídas. As levarei para fora da cidade, onde você me esperará com uma carroça-prisão longe dos portões e da vista dos guardas. Vamos colocá-las dentro da carroça, ir para o meio do deserto, longe de tudo e de todos, e esperar a madrugada para levá-las para cá."

Um pobre prisioneiro num dos aparelhos de tortura que ouvia a nefasta conversa gritou:

Prisioneiro: "Malditos! Jamais terão sucesso! Aparecerá um herói mandado pelos deuses que as salvará e acabará com suas raças!"

Maria: "Cale a boca, insolente!"

Maria laçou uma magia que congelou a lingua do sujeito, que acabou não conseguindo mais falar.

11 - O Feitiço de Volta ao Feiticeiro

Os comparsas de Noed estavam descansando no campo de treinamento e o assunto era o casamento relâmpago que acontecera:

Titanius: "Noed é louco! Como pode levar para casa uma mulher que ele nem conhece?! Aliás, nem elfa como ele ou ao menos humana ela é! Ele foi logo se casar com uma seraphim!"

Brutus: "Pensem pelo lado bom! Já pensou se ele resolvesse se casar com a Juliana (hic!)?"

Titanius: "Aí sim que não daria certo. Como uma guerreira da luz iria se dar bem com um guerreiro das sombras, ainda mais sendo do pior tipo que possa existir? E como uma seraphim fiel aos seus princípios, ela jamais se envolveria emocionalmente com alguém, mortal ou não."

Martin: "Maria também é louca em embarcar nessa. Quem garante que eles não estão se juntando por interesses e que um não quer destruir o outro?"

Titanius: "Ela eu não sei, mas inquisitores são interesseiros e se livram das pessoas quando não precisam mais delas."

Brutus: "Hic, e o que dá a mistura de elfo com seraphim?"

Titanius: "Brutus, vamos nos importar com o que interessa, que são as consequências práticas para nós. Se eles tiverem filhos é até melhor, porque ele pode sossegar. O que pode acontecer é ele se mandar deixando Maria grávida, como fez com a mãe da Shirka. Isso até seria bom, pois não teríamos mais que temê-lo."

Atrasado como sempre, Noed chegou ao campo de treinamento todo feliz. Afinal, a fase de azar que vivia parecia ter ficado para trás.

Noed: "Boa tarde, parças!"

Titanius: "O que manda de novo além do casório?"

Noed: "Tenho uma missão para vocês. Preciso da ajuda de vocês para matar o escorpião gigante nas catacumbas ao sul para obter o artefato mágico que devo entregar ao príncipe Marho. Preciso retirar o sangue dele, tarefa que não será nada fácil. Vocês querem ir comigo amanhã? Brutus, preciso de você sóbrio, hein!"

Titanius: "Pode contar conosco! E pode deixar que hoje Brutus dormirá em minha casa junto com meus filhos para que eu possa tomar conta dele. Ao voltarmos para a cidade avisarei a esposa dele já que ela não consegue tomar conta do próprio marido."

Noed: "Então até amanhã! Maria e eu vamos aproveitar o resto do dia."

Ao final do dia, Titanius foi com Brutus até a casa do segundo. Ao entrar viu um bar com bebidas de tudo quanto é tipo e muitas delas bem fortes. E falou assim com a mulher dele:

Titanius: "Já que a senhora é uma esposa incompetente e não consegue cuidar dele para que não beba, hoje ele dormirá em minha casa pois teremos uma missão importante amanhã."

A pobre e submissa esposa de Brutus ficou chorando com as palavras duras de Titanius. As esposas de Martin e Titanius também eram submissas. Afinal, não poderia ser diferente, já que eram guerreiros das sombras. O único com esposa de personalidade forte era Noed, que se casara com uma espalhafatosa seraphim degenerada, também guerreira do mal. Com o passar do tempo Noed ficaria pensando que era feliz e não sabia com sua ex-esposa: uma elfa também submissa.

No dia seguinte foram os quatro atrás do escorpião nas catacumbas ao sul. Ao longo do caminho mataram muitos monstros sem maiores dificuldades. Facilitava a vida ter um "guerreiro a mais", ou seja, ter o Brutus sóbrio. Ele surpreendia seus comparsas mostrando uma habilidade até então desconhecida. Isso até lhe deu um fulgaz desejo de querer parar de beber.

Chegando nas catacumbas, desceram até o fundo até encontrar o assustador artrópode. Noed ordenou a seus comparsas que o distraíssem, atacando-o e correndo. Eles assim o fizeram enquanto Noed se concentrava para invocar um demônio gigante.

O assustador diabão apareceu e começou a atacar o escorpião diante dos três comparsas, que ficaram estupefados com a cena. Mas de repente algo deu errado e o demônio se voltou contra Noed. Não restou nada a fazer a não ser sair correndo dali o mais rápido possível.

Após se afastarem o suficiente e perderem o bichão de vista, Noed vociferou:

Noed: "Maldita seja, seraphim! Por tua causa minha magia desandou e o monstro se voltou conta mim!"

Titanius: "Já está se desentendendo com sua esposa?"

Noed: "Claro que não, imbecil! Refiro-me a guardiã da ordem, a maldita irmã Juliana."

Titanius: "E o que ela fez para que te atrapalhasse?"

Noed: "Tá na cara que foi ela quem roubou a minha oferenda a Ker. Quem mais poderia ter feito isso? No dia em que a oferenda sumiu, Juliana não apareceu para treinar."

Os quatro voltaram desolados para suas casas. Brutus resolveu beber pelo dia atual e o anterior, ficando quase em coma alcóolico, dando um baita trabalhão para a esposa.

12 - Discussão Conjugal

Chegando em casa, Noed estava inconformado. Ele contava a sua esposa tudo o que acontecera e finalmente ela o convencia de que sua salvação era o sacrifício de crianças quando um holograma do príncipe Marho apareceu. Ele novamente aparecia deitado em almofadas e sendo abanado:

Marho: "Seu incompetente! Será que precisarei eu mesmo sujar as minhas mãos? Como não consegue lidar com um simples monstro?"

Noed: "A culpa é daquela maldita seraphim Juliana, que muito provavelmente estragou um sacrifício que eu faria a Ker e agora ela está me punindo. Tudo que eu faço está dando errado e eu não sei mais o que fazer!"

Marho: "Pois se vire! Você disse que iria eliminá-la. Promessas são para serem cumpridas. Se não conseguir cumprir sua missão, mandarei Nimonuil lhe punir!"

Noed: "Sim, Vossa Magestade!"

Marho desapareceu e Maria comentou:

Maria: "Por Ker! Esse príncipe é o maior gato!"

De fato, o que o príncipe tinha de mau ele tinha de belo. Ele era um belo moreno, jovem, alto e magro, ao contrário de Noed, que era velho, enrugado, careca e gordo.

Noed: "O que significa isso, Maria? Quer fazer o favor de me respeitar?"

Maria: "E desde quando você me respeita? O que significa isso?"

Maria lhe mostrou uma revista de elfa pelada bastante indignada, jogou-a no chão e usou de uma magia para queimá-la.

Noed ficou também irritado mas não falou nada. Apenas ficou lembrando que sua ex-esposa jamais o peitaria daquele jeito.

13 - O Sequestro

Noed e Maria finalmente resolveram colocar o plano deles em ação. Os dois se mandaram disfarçados para Teardrop Hamlet numa carroça, escondendo que havia uma cela atrás para não chamar a atenção de todos. Noed e Maria pararam ainda no meio do deserto e ela se disfarçou de uma belíssima seraphim normal.

Ao entrar na cidade, todos a reverenciaram, dada sua beleza e aparente autoridade moral. Logo logo uma meia dúzia de crianças apareceu para brincar ao seu redor.

Maria: "Mas que coisinhas mais fofas! Não querem conhecer rapidinho o novo observatório que estamos construindo aqui no deserto?"

Isso não levantava suspeitas, já que seraphims tinham observatórios espalhados por Ancária. Então, Maria levou as crianças para o meio do deserto, desfez seu disfarce, Noed apareceu e juntos as prenderam na carroça. Seus gritos foram ignorados pelo vazio do deserto, onde não havia ninguém para ajudá-las. Depois, selaram com magia a carroça, para que seus gritos não pudessem ser ouvidos por eles e por alguém que pudesse passar até chegarem na casa de Noed.

Eles esperaram até chegar a madrugada, quando retornaram à casa de Noed, onde entraram com a carroça. Mesmo não tendo uma porta, a armadilha também impedia que alguém visse o que acontecia no interior da alcova. Ali, onde ninguém poderia salvar as crianças, eles abriram a carroça e as levaram para o porão, onde as trancaram na cela aos pés da estátua de Ker.

O sacrifício não seria feito imediatamente, pois todo sacrifício tinha uma série de regras a serem satisfeitas; seja uma data específica, uma conjunção astral... Apesar disso, eles tinham muita pressa, pois poderiam ir atrás deles e encontrarem as crianças se não se livrassem delas logo. Uma data razoável era sempre o dia sete de cada mês, sendo que eles estavam no dia oito do mês anterior. Para piorar, era a única data onde poderiam fazer o ritual. Então, eles tinham que esperar quase um mês para não serem descobertos. Eles pegaram logo as crianças mesmo assim porque perto do dia sete todas as pessoas em Ancaria andavam mais atentas e precavidas quanto à possibilidade de serem sacrificadas. Isso era um crime normal e difícil de ser descoberto a tempo nesse mundo cheio de crendices.

Como as crianças em Teardrop Hamlet não voltavam para casa, as mães desesperadas altertaram os guardas da cidade ao cair da noite, que apenas se lembraram de que elas saíram com uma seraphim, algo que não levantava suspeitas. Afinal, seraphims eram anjos adorados por todos.

No dia seguinte, as autoridades locais resolveram enviar um mensageiro até a ilha das seraphims para saber o que houve. Como o local era longe e o mensageiro fora a cavalo, ele demorou alguns dias até chegar lá. As seraphims podiam usar hologramas e outros artefatos para entrar em contato com alguém, mas não o contrário.

O mensageiro chegou e dada a urgência da questão, foi logo encaminhado à presença de Sophia, que foi imediatamente contactar via holograma a seraphim mais próxima do local, que era a seraphim Juliana.

Juliana estava tomando um delicioso café em sua casa quando apareceu o holograma de Sophia.

Juliana: "O que deseja, senhora?"

Sophia: "Irmã, aconteceu algo terrível! Seis crianças desapareceram em Teardrop Hamlet. E foram vistas saindo da cidade na companhia de uma seraphim."

Juliana: "Mas qual irmã era?"

Sophia: "Não sabemos. Não determinei que nenhuma irmã fosse até essa cidade. A única seraphim que está próxima dessa cidade é você."

Juliana: "Isso só pode ser coisa da irmã Maria. Ela é que é adepta da prática de sequestrar e sacrificar crianças. E ela está por aqui. Para piorar, ela se casou com o inquisitor Noed!"

Sophia: "Irmã, eu vejo que você e esse tal de Noed irão lutar entre si. E o resultado nem mesmo eu, com todos os meus poderes, posso prever. Apenas tome muito cuidado para que o pior não aconteça. Sei que está muito mais forte e poderosa. Mas seu adversário será o pior de todos os que já enfretou. Lembre-se, ele é traiçoeiro. Não se esqueça de todas as recomendações que já lhe dei a respeito."

Juliana: "Estou preparada! Vou agora mesmo invadir a casa dele e saber o que está acontecendo!"

Sophia: "Espero que seja prudente e que não haja de maneira intempestiva, como foi naquela luta com o elfo negro, em que quase morreu."

‹pausa›

Sophia: "O que foi aquilo? Enloqueceu?"

Juliana ouviu calada o resto do sermão de Sophia, que terminou lhe desejando sorte:

Sophia: "Estarei rezando a Lumen pela sua vitória!"

As crianças choravam e gritavam desde que foram presas, sem que ninguém pudesse ajudá-las. A mais velha delas, uma menina de aproximadamente 12 anos, vendo que não adiantaria chorar, se acalmou e tentou dialogar e negociar com Noed, que as tratava bem, ao contrário de Maria, que era grosseira:

Criança: "O que vai fazer com a gente, senhor inquisitor?"

Noed: "Fofinha, fique feliz, pois servirá a Ker!"

Obviamente, nem Noed nem Maria haviam dito para as crianças o que iriam fazer com elas. Apenas as prenderam e ordenavam para que ficassem quietas. Para que tivessem muito sangue, também as alimentavam muito bem.

A menina, ouvindo as palavras de Noed, esboçou um sorriso, e perguntou:

Crinça: "Mas o que exatamente irá fazer com a gente? Por que nos prende aqui?"

Noed: "Minha lindinha, porque não acho que irão querer doar seus sangues espontaneamente a Ker."

Criança: "Por favor, senhor! Não nos machuque! Não podemos fazer nada para que não nos faça mal?"

Noed: "Infelizmente preciso do sacrifício de crianças para que Ker esteja sempre a meu lado! Mas não se preocupem, ela cuidará de vocês após a morte."

Criança: "Mas não queremos morrer! E depois, isso irá doer!"

Noed: "Meu docinho, sacrifício sem dor não tem graça. Por favor, fique quietinha e não me perturbe mais, sim?"

A criança se recolheu triste e chorosa, sem saber o que fazer, quando Maria falou:

Maria: "Noed, você tem paciência demais com essas crianças. Eu no seu lugar já teria usado uma magia para calá-las até a hora do ritual, para que só pudessem gritar durante o sacrifício."

Noed: "Sabe, amor, eu adoro essa sua crueldade, mas eu simplesmente não consigo ser assim."

14 - A tão Esperada Luta Épica

Assim que acabou a conversa com Sophia, Juliana saiu correndo em direção à casa de Noed e no meio do caminho encontrou seu amigo felino.

Cheshire: "Onde vai com tanta pressa, Juliana?"

Juliana: "Vou invadir a casa de Noed! Crianças de Teardrop Hamlet sumiram e a irmã Maria deve estar por trás disso."

Cheshire: "Vou junto contigo, então! Eles estão em dupla, portanto, será melhor que eu vá junto!"

Juliana: "Então vamos logo!"

Eles correram até lá, Juliana ensinou Cheshire a passar pela armadilha da porta e entraram na aparentemente vazia casa de Noed sem maiores dificuldades.

Cheshire ficou horrorizado com a decoração da casa e disse:

Cheshire: "Como fui fazer amizade com esse sujeito? Vamos embora logo deste antro! Não tem ninguém aqui!"

Juliana: "Engano seu! Existe um porão na cozinha. Eles devem estar lá!"

Eles entraram no porão e foram correndo até ao altar do sacrifício, onde surpreenderam Noed e Maria. As crianças começaram a gritar e a pedir ajuda, acreditando que seriam salvas imediatamente.

Noed: "O que faz aqui, minha cara amiga? Veio assistir a um sacrifício ou veio me ajudar e se oferecer a Ker?"

Juliana: "Cínico! Liberte as crianças já!"

Maria: "Só se for por cima de meu cadáver!"

Juliana: "Cheshire, cuide de Maria que eu dou um jeito em Noed!

Noed: "Calma, minha amiga..."

Juliana: "Não sou sua amiga!"

Noed: "OK, Juliana. Posso até libertar as crianças, se você me enfrentar no deserto amanhã."

Juliana: "Pois eu vou te enfrentar agora!"

Noed: "Se você me enfrentar agora, Maria matará as crianças. Se preferir esperar, elas serão suas se me derrotar."

Juliana: "E quem garante que não as sacrificarão hoje mesmo?"

Maria: "Porque hoje não é um dia que agrada a Ker, queridinha!"

Juliana: "E como vou saber que não está mentindo?"

Maria mostrou a Juliana o livro de sacrifícios e disse:

Maria: "Procure aí se o dia de hoje agrada a Ker, IRMÃ!"

Juliana resolveu folhear todo o livro, o que levou algumas horas, com os três esperando. Ela olhou tudo e viu que naquele dia e nos próximos o sacrifício não agradaria a Ker.

Juliana: "Tudo bem, Noed! Aceito seu desafio!"

Noed: "Assim que se fala! Estarei te esperando amanhã às 11 h perto do grande rochedo."

Juliana: "Nos veremos lá!"

Na hora e local marcados Noed estava esperando pela Juliana. Em cima da rocha estavam seus comparsas e um holograma do príncipe Marho. Ele adorava uma luta e não perderia algo que seria épico. Além disso, Brutus foi sóbrio. Afinal, se estivesse alcoolizado, não poderia prestar total atenção nem se lembrar de todos os detalhes.

Assim que Juliana chegou, Noed disse:

Noed: "Bem vinda a seu funeral!"

Juliana: "Chegue mais perto, sua punição te espera!"

Bastou Juliana falar que Noed puxou a espada e lançou uma magia, que a seraphim defendeu com facilidade. Ela correu em sua direção puxando também sua espada.

A luta era realmente o que se esperava dela. Equilibrada, dura, com alta técnica de ambos os lados. Enquanto Titanius e Brutus vibravam a cada golpe ou magia, atacada ou defendida, Martin e Marho estavam apenas sérios e concentrados no combate.

O tempo passava e a luta continuava empatada. Noed sempre provocava com seu jeito cínico e debochado, e Juliana sempre respondia de maneira invocada e grosseira.

Cheshire não tinha ido à luta porque tinha medo de uma possível derrota da seraphim. Só que um mau presságio tomou conta de seu coração e resolveu correr até lá.

Nisso, Noed desarmou Juliana, jogando sua espada longe, para o desespero da nobre seraphim e alegria dos guerreiros das sombras. Enquanto Brutus e Titanius comemoravam esfusiantemente, Martin e Marho apenas sorriam discretamente.

Noed: "Acabou, Juliana! Game over!"

Enquanto Noed encurralava Juliana (que não sabia o que fazer e já esperava a morte) para dar o golpe final, Cheshire apareceu correndo já com a espada em punho, gritando:

Cheshire: "Nãaaaaaaaaao! Julianaaaaaaaaaa!"

Noed se virou, lançou uma magia que jogou o guerreiro felino longe e disse:

Noed: "Não se mete, fracote!"

Nisso, Juliana, aproveitando-se da distração de Noed e de que ele estava de costas para ela, pegou a espada de volta e a atirou conta ele. Foi um golpe certeiro, com a espada atravessando seu torax.

A seraphim negra, que também não tinha ido à luta para alimentar as crianças, sentiu um mau pressentimento, pegou um cavalo e foi com toda a velocidade em direção do local da luta.

Enquanto isso, Noed se virou em direção da Juliana e vociferou com puro ódio:

Noed: "Desgraçada! Traiçoeira! Isso vai ter volta!"

Chesire: "Olha só quem fala!"

Uma assustada Juliana colada na rocha assistia Noed caminhar cambaleante em sua direção com um olha colérico. Enquanto isso, os também assustados guerreiros das sombras saíram correndo e o holograma do príncipe se desfez.

Quando Noed desabou no chão, Cheshire disse:

Cheshire: "Morreu..."

Maria: "Não, não morreu!"

Maria, que havia acabado de chegar, fez uma magia que ressussitou Noed, colocou seu enfraquecido marido junto de si em seu cavalo e foi em direção à floresta ao sul do deserto.

Cheshire se aproximou de sua amiga e perguntou:

Cheshire: "Está tudo bem?"

Juliana: "Estou ainda assustada, mas estou bem. Por um milagre de Lumen não fui sequer arranhada. Serei eternamente grata a você. Se não tivesse chegado a tempo, teria virado comida das hárpias do deserto."

Cheshire: "E o que fará agora?"

Juliana: "O óbvio, vamos atrás deles! Mas antes, vamos salvar as crianças!"

15 - A Morte de Semil

Já nas savanas ao sul do deserto, encontraram Shirka Alana sozinha. Noed, que já estava bem melhor, pediu a Maria que os acompanhasse de longe no cavalo, porque queria poder conversar a sós com sua filha. Ela não gostou, mas como era a filha do seu marido, acabou aceitando.

Shirka: "Olá, pai! Estou surpresa em te ver aqui. Você já viajou o mundo inteiro (ele tinha ido em várias partes de Ancária a serviço da inquisição)! Às vezes parece que você poderia andar ao redor dele em algumas horas."

‹pausa›

Shirka: "Nós (Semil e eu) tivemos sorte! A gangue que desmascaramos não era exatamente pobre (eles extorquiram o grupo). Agora queremos ser mercadores honestos e levar especiarias caras da floresta para Tyr Lysia."

‹pausa›

Shirka: "Você se importa se eu te acompanhar em parte do caminnho? Estarei me encontrando com Semil quando chegarmos na floresta."

Noed: "Está bem! Maria, minha nova esposa, concordou em ir atrás para podermos conversar melhor."

Shirka: "Como pode se casar novamente? E ainda mais com uma seraphim? E a memória de minha mãe, como fica?"

Noed: "Sua mãe é passado e eu preciso de alguém que me seja útil. Além disso, Maria é diferente; ela apóia a inquisição e serve a Ker."

Durante o caminho, Noed resolveu contar à filha mais sobre sua vida e a inquisição. Ele contou um pouco sobre os planos da inquisição e seu envolvimento com eles, que significavam a obtenção do controle de Ancária ao custo de levar o mundo onde viviam ao caos e à destruição. Ele acreditava que talvez ela se juntasse à sua causa sinistra. Ele nunca revelara os planos para ninguém, exceto Maria, que concordava com eles.

Ao chegar na floresta eles encontram Semil. Só que Noed descobriu que os membros do casal tinham se transformado em espiões do serviço secreto dos elfos para descobrir as operações da inquisição. Ou seja, os planos de Nimonuil haviam sido descobertos!

Shirka: "Após me expulsar fomos pegos roubando e concordamos em sermos espiões para nos salvar da forca. Agora sabemos que você está por trás de todas as conspirações tenebrosas da inquisição. As coisas que você me disse sobre o mundo e seus objetivos me assustam. Como você pode trair tudo o que nós acreditamos? Eu sou uma ladra. Sim, eu matei. Mas eu jamais mergulharia o mundo em ruínas. Morra aqui!"

Semil e Shirka atacaram Noed, que, mesmo enfraquecido, os derrotou facilmente, mas não os matou. Maria resolveu correr na direção deles e ouviu o último diálogo entre pai e filha.

Shirka: "Não sei por que está nos poupando. Você deveria ter nos matado. Vamos tentar de todas as maneiras frustar seus planos. Da próxima vez em que nos encontrarmos, vou lutar com todos os meios necessários."

Maria: "Acaba logo com esses desgraçados! Não vê que estão contra nossos planos?"

Noed: "Não! Vamos deixá-los aí e ir para a floresta! O que acha que esses fracotes poderão fazer comigo? Se me enfrentarem novamente, irão perder!"

Noed e Maria entraram na floresta deixando a filha e seu noivo feridos. Noed depois se arrependeu de tê-los deixados vivos. Ele ficou se culpando por ter sido fraco e mostrado compaixão. Ele não queria que nada entrasse no caminho da inquisição. Ele jurou a si mesmo nunca mais se distrair e se levar pelos sentimentos. Por conta de tudo, achou que era melhor abandonar sua casa e nunca mais voltar ao deserto, deixando o príncipe Marho na mão.

Eles não estavam mortos, mas os ferimentos eram graves. Tanto que Semil acabou morrendo nos braços de Shirka, que não conseguia fazer outra coisa a não ser chorar a morte de seu noivo.

Cheshire e Juliana chegaram à floresta, após salvarem as crianças, e encontraram Shirka agonizante ao lado do cadáver de Semil.

Shirka: "Seraphim, tenha piedade de mim e salve minha vida!"

Antes de ir levando Shirka de volta a Khorum para que fosse tratada, eles enterraram Semil e fizeram uma prece a Lumen por sua alma.

Juliana colocou Shirka em seu cavalo e voltou a Khorum junto com Cheshire. Lá, levaram Shirka ao centro de cura, uma espécie de mistura de hospital com templo, onde se reverenciava Lumen. Como Shirka estava estava com dinheiro, o tratamento, que não era caro, já que era um local de caridade, foi pago com sua verba ilícita.

16 - A Derrota do Príncipe Marho

Todo dia Juliana e Cheshire visitavam Shirka, que agradecia suas presenças. Shirka foi melhorando aos poucos. Até que chegou um dia e ela não estava mais lá: ela simplesmente tinha fugido na calada da noite e não tinha sido mais vista na cidade. Uma atitude bem típica dela!

Enquanto isso, Cheshire ia junto com Juliana para ajudá-la a finalizar suas missões no deserto. A grande preocupação de ambos era que fatalmente haveria uma luta sangrenta com o príncipe. Mesmo aparentando não ser bom guerreiro, pois só aparecia recostado em almofadas, tinha fama de tal. Portanto, todo cuidado seria pouco. Se com Noed, guerreiro de técnica conhecida, Juliana quase fora tragada pelo solo de Ancária, imagina enfrentando um guerreiro supostamente poderoso e cuja forma de luta não se conhecia?

Até que um dia um enviado do príncipe juntamente com alguns guerreiros resolveu procurar Juliana, que estava sozinha no momento. Ela já se preparava para atacar quando ele falou:

Tarick-Sul: "Calma! Nós viemos em paz, baixe suas armas! Deixa eu me apresentar, eu sou Tarick-Sul, enviado do príncipe. Queremos que você apoie o príncipe, já que o inquisitor fracote fugiu. Vou fazer uma oferta que você não deve recusar. Eu vou lhe dar três sacos de ouro e passagem livre por todo o nosso território. O príncipe é um homem poderoso e não é sábio recusar sua amizade. O que você me diz?"

Juliana pensou que fingir mudar de lado poderia ser uma boa ideia para conseguir encontrar o príncipe e desmascará-lo, já que vivia fugindo e dificilmente era encontrado ao vivo. Como Cheshire nunca a apoiaria numa atitude dessas por achá-la arriscada demais, ela resolveu aceitar a proposta em segredo. Claro que no fundo ela queria era matar todos.

Juliana: "Aceito sua proposta!"

Tarick-Sul: "Então pegue seu cavalo e me acompanhe depressa. O príncipe Marho está nos aguardando."

Chegando ao terraço de uma casa simples, onde dificilmente se pensaria em encontrar um príncipe, Juliana finalmente viu Marho recostado em suas almofadas e deitado sobre tapetes, tudo caríssimo, e sendo abanado por seus servos ao vivo e a cores. Ela se ajoelhou reverenciando-o e disse:

Juliana: "Em que posso servir Vossa Magestade?"

Marho: "Preciso que mate o escorpião gigante nas catacumbas ao sul e leve seu sangue para mim, para que eu possa obter um artefato mágico para criar uma arma e eu poder ser declarado rei do deserto."

Juliana: "Que seja feita a sua vontade!"

Juliana estava se retirando quando ele a chamou de volta.

Marho: "Espere!"

Juliana se ajoelhou de novo. Afinal, estava diante de um príncipe.

Marho: "Todos gostam de ouro e você não é diferente. Você deve ser bem interesseira igual ao fracote do Noed. Ao menos espero que, ao contrário dele, seja forte e competente."

Essa fala deixou Juliana se rasgando por dentro. Nada poderia ferir a honra dela mais do que ser comparada a Noed. A vontade dela era quebrar tudo. Porém teve que se segurar. Um ataque de fúria poderia ser fatal a ela, já que estava diante de um suposto poderoso guerreiro. O príncipe continuou:

Marho: "Eu posso te dar todo o ouro do mundo e outras jóias se você for leal a mim! Imagine enfeitar sua armadura com pedras preciosas, o quão bela não ficaria!? Posso te dar tudo isso, desde que obedeça integralmente todas as minhas ordens!"

Nisso Juliana ficou imaginando por alguns segundos sua armadura toda dourada cheia de diamantes. Era uma tentação e tanto, mas o dever e a lealdade a sua ordem falavam mais alto e ela iria continuar fingindo estar ao lado do príncipe.

Juliana: "Muito obrigada pela generosidade, Vossa Magestade! Agora preciso ir cumprir logo suas ordens."

Marho: "Está liberada!"

Juliana desceu as escadas e viu que no térreo, no interior da construção, havia um homem preso numa cela. Como não havia ninguém tomando conta, ela resolveu conversar com ele:

Assim: "Como pode uma seraphim ficar do lado desse príncipe tirano? Será que ninguém, nem mesmo os seres celestiais, resiste à tentação do ouro?"

Juliana: "Não me julgue prematuramente! Quem é você e o que faz preso aí?"

Assim: "Sou o alquimista Assim, um dos mais habilidosos alquimistas do deserto. Fui enganado por um falso guerreiro da luz, que disse que me levaria a Al Sadim, quando na verdade me levou ao príncipe Marho, que me prendeu porque sou contra os planos dele de criar uma arma poderosa a partir de um artefato mágico que só eu posso criar."

Juliana: "Por acaso esse falso guerreiro da luz se chamava Noed?"

Assim: "Se não era isso, era algo parecido. Só sei que ele me enganou muito bem. Jamais diria que era um guerreiro das sombras disfarçado."

Juliana: "Acaso era um elfo gordo, velho e careca?"

Assim: "Exatamente!"

Juliana: "Então só pode ter sido ele. Ele sabe engabelar as pessoas muito bem. Caso não saiba, ele é um inquisitor."

Assim: "Por Lumen! Um inquisitor não hesitará em até acabar comigo e mesmo com o príncipe para tentar conseguir a arma gerada pelo artefato mágico se isso for de seu interesse!"

Juliana: "De Noed eu não duvido nada! Mas acho que ele não será preocupação pois fugiu para a floresta."

Assim: "Seraphim, por seu amor a Lumen, se ao invés de usar o sangue do escorpião gigante eu usar sangue de seraphim para obter o artefato mágico, o feitiço se voltará contra o feiticeiro e quem usar a arma feita do artefato mágico será desintegrado. Pense nisso! Ouro algum vale a pena para ver o deserto e possivelmente todo o mundo subjulgado!"

Juliana: "Foi bom conversar contigo mas preciso cumprir minha missão! Até logo!"

Assim (pensando): "Será que ela está tentando enganar o príncipe e vai fazer o que falei? Espero muito! Desde que aquele inquisitor me enganou não dá para acreditar em mais ninguém."

Juliana foi às catacumbas e matou o escorpião com a técnica do ataca e corre. Foi um processo demorado, mas que deu o resultado esperado. Após matá-lo, usou uma magia e queimou seus restos mortais, de modo a impedir que seu sangue fosse usado para o artefato mágico.

Após isso, abriu uma ferida onde Ramon a havia cortado e colocou seu próprio sangue no frasco dado pelo príncipe. Depois de preencher o pote, estancou o sangue com parte da roupa e voltou ao príncipe, que ficou muito feliz.

Marho: "Juliana! Me orgulho de ter como aliada alguém forte e competente como você! Mas pelo visto o escorpião lhe feriu também. Espero que não tenha sido com a cauda cheia de veneno, né? (sendo irônico)"

Juliana: "Vossa Magestade, foi apenas uma pincelada com suas garras. Se fosse com a cauda eu não estaria aqui."

Juliana se sentiu mal pelo fato de o príncipe ter notado a ferida. Não pelo fato de ele achar que tinha sido o escorpião e sim porque isso a fazia lembrar da fatídica luta com o elfo negro.

Uma ajoelhada seraphim entregou o sangue ao príncipe, que foi entregue por Tarick-Sul a Assim, junto com os outros ingredientes para criar o artefato mágico e, posteriormente, a arma.

Enquanto Assim trabalhava escoltado pelos guardas do príncipe, foi oferecido um banquete luxuoso à seraphim. Marho e Juliana comiam e eram abanados pelos servos. Enquanto faziam a refeição, Marho fazia promessas de lhe dar riquezas inimagináveis se continuasse ao seu lado e o servisse eternamente. A seraphim, que era uma excelente atriz, fingia uma ambição a ponto de mostrar brilho nos olhos ao príncipe, algo que o deixava muito feliz. Afinal, seria a aliança dos dois mais poderosos guerreiros do deserto desde a fuga de Noed.

Algo que todos notavam, inclusive o príncipe, é que a seraphim, apesar de magrinha, comia muito. Seus rígidos treinamentos exigiam uma dieta saudável e hipercalórica. O príncipe também tinha dieta saudável por também ser guerreiro.

Assim trabalhava rapidamente pois o chicote dos guardas estava ali a postos para estalar em suas costas caso aparentasse estar fazendo corpo mole.

Assim terminou de construir o artefato mágico e o entregou ao mecânico do príncipe, que o transformou em arma e o deu nas mãos de Marho.

Marho: "Finalmente, o trono de Bengaresh será meu! E para testar minha arma, nada como usá-la contra quem não quis me ajudar voluntariamente! Assim, você poderia ter tido toda a riqueza deste mundo, mas escolheu ir contra mim! Sua vida termina aqui! Morra já!"

O príncipe apontou a arma e a acionou para desmaterializar o alquimista, mas quem acabou sendo desmaterializado foi ele mesmo.

Marho: "O que está havendo!? Nããããããããããããããããããããããoooooooooooo!"

Ele simplesmente foi desintegrado junto com a arma. Nisso, todos seus asseclas saíram correndo desesperados, com medo de que algo semelhante acontecesse com eles. Cada um pegou seu cavalo e fugiu.

Assim ficou abismado, ajoelhou-se aos pés de Juliana e falou:

Assim: "Por Lumen! Seraphim, perdoa-me! Perdoa-me por duvidar de sua santidade! Perdoa-me por achar que você era gananciosa como o tal inquisitor! Agradeço-lhe enormemente por ter sido fiel aos seus princípios e não ter se vendido ao príncipe!"

Juliana: "Está tudo bem! Eu entendo sua atitude! Eu também fiquei desconfiada de tudo e de todos desde que fiquei sabendo por Sophia que Noed era um inquisitor."

Assim se levantou, abriu o porão da construção e mostrou o que tinha à Juliana: ouro, diamantes e demais tipos de jóias, tudo de muito valor e em grande quantidade.

Assim: "Seraphim, vamos logo até Al Sadim e dizer para ele sobre toda essa riqueza. Ele é herdeiro por direito de tudo isso. Ele é um homem sábio e saberá fazer bom uso disso."

Eles foram até Al Sadim, que ficou penalizado com a morte do sobrinho, mas ao mesmo tempo sabia que a partir de então a paz reinaria no que agora seria o seu reino. Como ele agora seria declarado rei, ajoelharam-se ao chegar em sua presença.

Al Sadim: "Por que se ajoelham em minha presença?"

Juliana: "Porque o príncipe Marho está morto e agora Vossa Magestade é o rei de Bengaresh."

Al Sadim: "Meu sobrinho Marho, por que enveredaste por este caminho de ganância!? Poderíamos juntos ter tornado o deserto um lugar bem melhor para se viver! Uma pena! Você era um cara inteligente e, independentemente de quem fosse declarado rei, poderíamos ter trabalhado juntos!"

Assim: "Vossa Magestade..."

Al Sadim: "Por favor, levantem-se, isso é uma ordem! Serei rei, mas sou apenas uma pessoa normal que governará um povo pensando em seu bem. Peço que me chamem apenas de Al Sadim."

Eles se levantaram e Assim continuou:

Assim: "Al Sadim, o príncipe deixou uma enorme fortuna em jóias e ouro no porão da casa onde estava escondido. Ela é sua por direito..."

Al Sadim: "Tenho então uma missão para você. Meu primeiro decreto como rei é que use todos esses objetos de valor para comprar a liberdade de todos os servos do deserto. Abomino a escravidão e quero todo o meu povo livre. O que sobrar pode ficar contigo para aprimorar suas pesquisas em alquimia."

Assim: "Vossa M..., digo, Al Sadim, que seja feita sua vontade! Muito obrigado por tudo e desejo-lhe sinceramente que seu governo seja de muita sabedoria! Que Lumen guie seus passos!"

Al Sadim: "Está dispensado!"

Assim antes de ir se ajoelhou diante de Juliana e disse:

Assim: "Irmã, quero mais uma vez agradecer a tudo que fez por mim, pelo reino e por Ancária! E desculpa mais uma vez por ter desconfiado de sua santidade!"

Juliana: "Eu apenas cumpri minha missão. Agora deve ir e cumprir a sua."

Assim se despediu e foi embora cumprir a missão que lhe fora designada.

Al Sadim: "Juliana, minha amiga, quanto a você, não deixe esse maldito inquisitor impune. Vá atrás dele e lhe dê punição máxima, a morte! Sou um cara da paz, mas esse elemento só trará desgraça ao nosso mundo enquanto estiver vivo."

Juliana: "É exatamente o que quero fazer. Não só isso, como também, se possível, desmantelar a inquisição, acabando também com o grande inquisitor, Nimonuil!"

Juliana se despediu de Al Sadim, que antes de ir embora, recebeu de suas mãos, assim como Assim, o convite para a festa de coroação do novo rei.

17 - Novos Rumos

Já havia passado dois meses desde o sumiço de Noed quando Juliana finalmente pôde ir atrás dele nas florestas ao sul. Ela resolveu chamar seu amigo Cheshire para ir junto em suas novas aventuras.

Juliana: "Estou entregando as chaves de minha casa para partir em direção a novas aventuras nas florestas do sul. Quer ir junto comigo caçar um inquisitor e uma seraphim degenerada?"

Cheshire: "Com certeza! Você de certo precisará de ajuda já que eles estão em dupla. Vou deixar minha casa aos cuidados do felino vizinho, que é de confiança, e vou contigo."

Eles pegaram seus cavalos e quando passaram pelo centro da cidade, viram uma estátua em tamanho real de Juliana. Eles desmontaram de seus equinos e ficaram contemplando-a. Em seu pedestal, estava escrito: "Em honra da mais poderosa e santa seraphim, Juliana".

Juliana: "Quem será que fez isso?"

Titanius: "Fomos nós!"

Juliana e Cheshire se viraram e viram um Brutus sóbrio e Titanius ajoelhados diante dela.

Brutus: "Se não fosse por você, não sei o que seria de nós."

Titanius: "O fato é que desde que descobrimos que Noed era inquisitor, nós o temíamos, pois ele poderia acabar conosco quando bem o quisesse."

Brutus: "Além disso, ele poderia acabar destruindo a ordem de Ancaria em busca de seus interesses."

Titanius: "Mas o que mais fez de importante foi ter derrotado o príncipe Marho. Somos guerreiros das trevas, mas não gostaríamos de viver sob o julgo de um tirano que, assim como Noed, poderia querer se livrar de nós por um mero capricho."

Brutus: "Juliana, não nos deixe! Precisamos de você aqui para nos proteger."

Juliana: "Preciso ir! Se vocês não querem Noed de volta por aqui, devo ir atrás dele e acabar com ele. Lembrem-se que ao contrário de mim, ele é morador da região e VAI voltar.

Cheshire: "Cadê o panaca do Martin? Ele também não é responsável pela estátua?"

Brutus: "O panacão tem tanto medo da Juliana que não quis nem saber de encomendar a estátua ou de estar presente aqui."

Juliana: "Muito obrigada pela homenagem, mas realmente preciso ir. Até algum dia, se eu realmente voltar."

Brutus: "Boa sorte e até!"

Titanius: "Que seja um até breve!"

Eles se despediram e cada dupla foi para um lado. Aí pôde-se ver o quanto os guerreiros das sombras eram traiçoeiros:

Brutus: "Espero muito que ela volte, pois desejo arrancar seu couro e exibi-lo a todos!"

Titanius: "Então acho bom treinar bastante! Caso contrário, irá sentar no colo de Ker! Ela vai te fatiar todo!"

Brutus: "Terei tempo para isso. Não beberei até encontrá-la novamente. Ela terá uma desagradável surpresa!"

Titanius: "Posso te ajudar nos treinos, mas te aconselho prudência. Ela é MUITO melhor do que você e vai continuar evoluindo. Eu não a encararia nem hoje nem nunca, não sou louco."

Do outro lado, Juliana não confiava nenhum pouco nos guerreiros das sombras.

Juliana: "Não confio nada neles, especialmente no Brutus! Algo me diz que se tivessem oportunidade, tentariam me derrotar. Sorte que são dois fracotes, que não chegam a meus pés."

Cheshire: "Nem eu! Só um doido confiaria em um guerreiro das sombras. E hoje sei que não dá para confiar em quem se dá com guerreiros das sombras, porque é da mesma laia."

Ambos foram na direção sul e, enquanto passavam pelas savanas antes de chegar à floresta, Cheshire sentiu que estavam sendo seguidos.

Cheshire: "Juliana, estamos sendo seguidos!"

Juliana: "Tem certeza?"

Cheshire: "Olhe, aquela moita está se mexendo! Tem alguém escondido aí?"

Juliana e Cheshire puxaram suas espadas e foram até a moita. Atrás dela saiu nada menos do que um inquisitor!

Cheshire: "Outro inquisitor!?"

Juliana: "Tema o poder da seraphim!"

Ogir-Niz: "Baixem suas armas porque por hora não me interessam! Estou atrás de vocês para pegar a seraphim criminosa que sequestrou meu filho e quase o sacrificou!"

‹pausa›

Ogir-Niz: "Sou o inquisitor Ogir-Niz de Teardrop Hamlet e no momento apenas quero fazer vingança. Não perdoarei aquela que tentou matar meu filho e sei que vocês também estão atrás dela e do meu maldito colega de inquisição Noed."

Juliana (irônica): "Por que todo inquisitor tem que ser gordo, velho e careca, hein!?"

Ogir-Niz: "Muito engraçadinha! Assim que eu terminar com aqueles dois, pode esperar que sua hora irá chegar!"

Juliana: "Nossa, estou morrendo de medo! Por que não me enfrenta agora?"

Ogir-Niz: "Porque antes quero fazer vingança!"

Juliana: "E vai matar seu amiguinho Noed?!"

Ogir-Niz: "Como deve saber, inquisitores não possuem amigos, apenas se aliam a quem pode satisfazer seus próprios interesses. E como fracassou no deserto, Nimonuil está se lixando para ele. Posso acabar com ele se assim o desejar."

Juliana: "Então vá lá e acabe com os dois, se você puder, obviamente! Não precisa nos seguir. Ao chegar na floresta, irá ver o rastro que suas tramóias e conspirações deixaram."

Ogir-Niz: "Vou indo, então. Mas não se esqueça, sua vez irá chegar!"

Ogir-Niz se mandou para a floresta com toda a pressa em seu cavalo, deixando Juliana e Cheshire para trás.

Juliana: "Cheshire, vamos nós também!"


Última atualização: 24 de fevereiro de 2017